Chega de Fruta Amassada: Robô Australiano Resolve o Delicado Problema da Agricultura
Resumo: Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Se depender da startup Lyro Robotics, o papel dos robôs na indústria agrícola vai além dos trabalhos no campo
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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Quando criança, Nicole Robinson, que cresceu em Melbourne, na Austrália, no início dos anos 2000, era fascinada por tecnologia, robótica e humanoides. “Sempre fui aquela criança que mexia em tecnologia, queria desmontar as coisas para ver o que estava conectado a quê e como funcionava”, conta Robinson. “No ensino fundamental, nem era claro se havia como seguir nessa área. Quando disse à minha família que queria uma carreira na robótica, não foi uma surpresa para eles. Se eu tivesse dito que não seguiria para a tecnologia, isso sim teria sido uma surpresa maior”, afirma.
Alguns anos depois, hoje, Robinson é CEO e cofundadora da Lyro Robotics, startup de robótica especializada no desenvolvimento de soluções automatizadas para o manuseio e embalagem de produtos agrícolas, especialmente frutas e vegetais. Apesar de morar em Brisbane, também em território australiano, ela está em Melbourne, sua cidade natal, para supervisionar um projeto de pesquisa.
Seu cofundador, o austríaco Jurgen ‘Juxi’ Leitner, divide o tempo entre Queensland, onde fica a sede da Lyro, e Victoria, onde é professor titular de robótica, espaço e empreendedorismo na Universidade Monash, em Melbourne.
Os dois se conheceram em 2017, quando Leitner liderava o Centro Australiano de Excelência em Visão Robótica, em Queensland. Robinson, na época doutoranda na Universidade de Tecnologia de Queensland, estudava a interação entre humanos e robôs e chegou a vencer a Competição de Robótica da Amazon no Japão, um desafio internacional promovido pela Amazon Robotics.
Depois que Robinson apresentou sua solução robótica no palco, os dois conversaram sobre a viabilidade de transformar a ideia em uma empresa. Em 2019, nasceu a Lyro direcionada para a área onde a necessidade por soluções robóticas era mais urgente.
“Queríamos fazer algo significativo e impactante – robôs para o bem, algo que a Austrália já faz bem. Nosso primeiro caso de uso tinha que refletir isso. Bom, nós produzimos uma quantidade fenomenal de alimentos na Austrália. Temos grandes campos, muitas oportunidades para culturas especiais e exportamos boa parte do que cultivamos. Se tivéssemos mais mão de obra, poderíamos exportar ainda mais, certo?”, diz Robinson.
O maior quebra-cabeça do Tetris
O teste definitivo para avaliar a eficácia de robôs no manuseio de alimentos é o abacate, segundo Robinson e Leitner. Por ser relativamente macio por dentro, um “avo” precisa ser tratado com delicadeza para evitar danos ou hematomas em sua estrutura interna.
Os abacates variam de tamanho e estágio de maturação, e o principal desafio na criação de um robô que possa embalá-los com eficiência é reproduzir o conceito humano de coordenação entre visão e movimento – ou seja, avaliar a fruta antes de pegá-la e transmitir essa informação à mão ou garra do robô, garantindo que ele nem a solte nem aplique força excessiva.
Nenhuma fruta ou vegetal é exatamente igual ao outro. Produtos com alta variação são delicados e precisam ser manipulados com precisão e cuidado. Além disso, devem ser organizados de forma a caberem juntos na embalagem – um verdadeiro desafio de Tetris, que na robótica, se refere à complexidade de organizar objetos de diferentes formatos e tamanhos de maneira eficiente dentro de um espaço limitado.
A faca de dois gumes da Covid
No início de 2020, com o fechamento de diversos setores e a interrupção das cadeias de suprimentos, a necessidade de robôs para substituir o trabalho humano aumentou ainda mais.
“O entendimento sobre o que estávamos fazendo ficou muito claro: podemos fornecer máquinas para apoiar operações quando há dificuldades para manter funcionários no local, seja por questões de saúde ou segurança”, diz.
A Lyro já tinha um protótipo, mas ele ainda estava longe do produto final de hoje. “Era impresso em 3D, cheio de fita adesiva e amarras improvisadas, só para mostrar o conceito ao agricultor – para explicar o que o sistema fazia”, conta Leitner.
Ele lembra com humor do protótipo pré-COVID-19 e dos desafios superados até criar um produto comercial funcional. “Transportar algo impresso em 3D em um carro, sob um calor de 30°C em Queensland, fazia com que o material deformasse. Por isso, sempre levávamos muitas peças sobressalentes.”
Até o final de 2022, houve uma mudança na percepção dos clientes sobre o problema que a Lyro estava resolvendo e na confiabilidade do robô produzido pela empresa.
“Os clientes entenderam que qualquer interrupção na força de trabalho pode ser prejudicial para a certeza e eficiência da cadeia de suprimentos. Acho que a COVID-19 acelerou as conversas com parceiros-chave nesse sentido”, diz Leitner.
No lado da engenharia, a Lyro finalmente deixou para trás a fase das soluções improvisadas e levou seus robôs para o campo. “Foi muito empolgante ver nosso primeiro robô comercial em uma casa de embalagem, funcionando sozinho, e ver os agricultores chamando os vizinhos para dizer ‘venham ver, tenho um robô no meu galpão’”, conta Leitner.
A tecnologia por trás do robô
Uma das razões pelas quais a Lyro conseguiu atrair clientes como o Costa Group – a maior empresa hortifrutícola da Austrália – foi o rápido avanço da tecnologia nas últimas duas décadas. “Cinco anos atrás, não era possível construir robôs como este”, diz Leitner.
Especializada no cultivo, embalagem e comercialização de frutas e vegetais frescos, a Costa produz cítricos, berries, cogumelos, tomates de estufa e abacates. “O robô precisa ter inteligência suficiente para lidar com a variação das frutas e, ao mesmo tempo, flexibilidade para segurá-las enquanto se move rapidamente.”
“O robô tem três ou quatro câmeras em cada ponto. Nos últimos 20 anos, as câmeras se tornaram muito mais baratas. Agora, podemos construir nosso robô por um décimo do custo que teríamos há alguns anos”, afirma Robinson.
Além disso, os avanços em inteligência artificial permitiram que o robô aprendesse a partir de grandes volumes de dados coletados por essas câmeras. Um artigo sobre redes neurais profundas, publicado em 2012 pelos pesquisadores Ilya Sutskever e Geoffrey E. Hinton, da Universidade de Toronto, no Canadá, foi um divisor de águas para a robótica.
“No começo, não sabíamos exatamente como as redes neurais profundas se aplicariam à robótica”, diz Leitner, que na época era pesquisador de IA e robótica na Suíça. Treze anos depois, esses avanços aceleraram significativamente o que os robôs da Lyro são capazes de fazer.
Expandindo internacionalmente
Dado o tamanho e peso de um robô Lyro, os fundadores afirmam que parte da estratégia de crescimento da empresa será o licenciamento do software.
“Provavelmente temos um dos maiores bancos de dados do mundo sobre produtos frescos. Uma câmera de um robô Lyro captura 100 quadros por segundo e opera por oito horas ao dia – coletamos uma quantidade enorme de imagens de abacates”, explica Leitner.
Esses dados fazem parte do valioso portfólio de propriedade intelectual da Lyro. “Imagens e dados são um diferencial importante – já embalamos cerca de dois milhões e meio de itens, um conjunto de dados considerável”, diz ele.
Atualmente, há cerca de uma dúzia de robôs rodando com o sistema da Lyro. Robinson acredita que esse número pode chegar às centenas, por meio do licenciamento do software. No futuro, a CEO de 35 anos quer levar a tecnologia para o mundo.
“A visão audaciosa é desenvolver software de robótica na Austrália, operando globalmente, para que possamos ampliá-lo, distribuí-lo e permitir que outras empresas e integradores de robótica o utilizem de forma plug and play.”
Dos abacates à Lua
Nos próximos dez anos, Robinson quer tornar a Lyro um nome conhecido. “Queremos atender clientes em diversas áreas. Nossa tecnologia tem aplicação ampla – seja na manufatura, na agricultura, na reciclagem ou até na mineração”. “A automação pode apoiar tarefas em diferentes setores – isso vai muito além de frutas e vegetais”, conclui.
* Shivaune Field é jornalista de negócios da Forbes Austrália, onde escreve sobre tecnologia e inovação.
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