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“No mundo nos pedem carne com história, com marca”, diz Alejandro Berrutti

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Resumo: Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Empresário e pecuarista, ele fala da importância do setor em seu país, o Uruguai, e a grande influência de grupos brasileiros, como Marfrig e Minerva
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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

 

A carne bovina é um dos produtos agropecuários mais exportados pelo Uruguai. O país exporta anualmente entre 400 mil e 500 mil toneladas. Neste ano, por exemplo, já foram 460 mil, sendo os principais destinos a China, o bloco USMCA(Estados Unidos-México-Canadá), Rússia, Israel e Reino Unido.

Dono de um rebanho baseado em raças europeias, como angus e hereford, a carne do Uruguai é desejada no exterior e largamente classificada como premium. O Reino Unido, por exemplo, pagou entre US$ 7.000 e U$ 8.000 por tonelada, em média, nos últimos dois anos. Além disso, no país, a maior indústria frigorífica local é uma brasileira, a Marfrig, com instalações de abate de bovinos em Colônia, Salto e San José e hoje em processo de venda para a também brasileira Minerva Foods. Essas unidades exportam para EUA, Japão e Europa.

É justamente sobre o mercado externo e interno de carne bovina e as perspectivas para o setor que o engenheiro agrônomo Alejandro Berrutti, diretor da United Breeders & Packers (UBP), falou com a Forbes Uruguai. Com sede em Montevidéu e escritórios no Brasil, Argentina, Peru e Dinamarca, a empresa exporta carne bovina e ovina para mais de 60 mercados ao redor do mundo.

Berrutti também comentou sobre o boom no consumo de carne suína nos últimos 15 anos. Além disso, ele fala sobre os motivos que o levaram a apostar no desenvolvimento de sua marca própria com a raça angus, que está cada vez mais presente no rebanho bovino uruguaio.

Há quanto tempo a empresa atua na intermediação de carne?

Começamos em 2004 com o negócio de exportação de proteínas, principalmente carne bovina e ovina do Uruguai. A partir dos contatos que fizemos no mercado e dos pedidos de algumas empresas uruguaias sobre determinados produtos de carne suína que elas não conseguiam, começamos a explorar esse nicho de mercado. Hoje, diria que a importação de carne se tornou o eixo central da empresa, abrangendo carne bovina, suína e de frango.

Com quais mercados vocês estão trabalhando para a importação no Uruguai?

No caso dos cortes de carne suína, importamos principalmente do Brasil, onde somos representantes da Saudali, uma indústria frigorífica brasileira de suínos, sediada no Vale do Piranga, no interior de Minas Gerais. Da Europa, trazemos as gorduras utilizadas na industrialização de charcutarias.

O nosso fornecedor é diversificado, pois buscamos tanto qualidade quanto preços competitivos. Hoje, esses destinos são basicamente Bélgica e Espanha. Quando as exigências são de maior qualidade, o fornecedor é a Dinamarca.

O consumo de carne suína per capita no Uruguai cresceu significativamente nos últimos anos. Há espaço para continuar crescendo ou está perto do limite?

O Uruguai consumia cerca de 10 quilos de carne suína por pessoa, em 2013, e hoje esse número está em torno de 16 quilos. Ou seja, houve um crescimento de 60% nos últimos 15 anos. Isso aconteceu basicamente porque a carne suína se tornou uma proteína mais econômica, similar à carne bovina.

Um corte se popularizou, a bondiola, conhecida no Brasil como paleta ou sobrepaleta, que hoje é um produto âncora nos supermercados. Não há açougue no Uruguai que não tenha seu quadro de ofertas de carne de bondiola. Esse é o corte de carne suína que o consumidor uruguaio mais aprendeu a cozinhar.

O consumo de suínos deixou de ser restrito às festividades, como era tradicionalmente. Antes, o carré de porco era consumido no final de dezembro, mas o que não era vendido nos supermercados ficava encostado nas prateleiras de congelados, esperando para ser levado. Hoje, isso mudou, e o consumidor encontra carré de porco, bondiola, filé mignon, entre outros produtos, a preços bem razoáveis para o bolso da população em geral.

Além de atuar como intermediário, o sr. também está na parte primária da carne bovina, sendo produtor de gado Angus em José Ignacio, perto de Punta del Este. Por que escolheram esse ramo e como veem as perspectivas para o setor pecuário no futuro?

Isso está na gênese do nome da nossa empresa (UBP), a união dos criadores com a indústria frigorífica. Há 20 anos, percebemos que havia uma necessidade por parte da indústria frigorífica: o fornecimento de matéria-prima. Ou seja, a partir do fornecimento dessa matéria-prima, surgiram os negócios de exportação de carne bovina.

Desde aquele momento, vimos toda a evolução do setor pecuário. Antes, os novilhos eram abatidos com 6 a 8 anos, hoje cerca de 10% a 15% da produção vem de animais com 2 a 3 anos. Houve uma clara evolução. Além disso, temos a exportação de gado vivo, hoje um setor muito importante para o Uruguai, especialmente para os criadores de bezerros. Tradicionalmente, o bezerro no país valia menos de US$ 1 (R$ 6,08) por kg em pé, hoje esse valor praticamente triplicou, US$ 3, (R$ 18), o que ajuda a manter a cadeia produtiva da pecuária em crescimento.

Por que escolheram a raça Angus para desenvolver o negócio de criação de gado?

Porque quando saímos para o mercado internacional, nos pedem carne com história, com marca. Além disso, por estar vinculado à minha profissão de engenheiro agrônomo, que não exerço, e ser um empreendimento familiar, entendemos que colocar a nossa marca na carne que vendemos semanalmente nos supermercados ao redor do mundo, como no Peru ou na Colômbia, agregava valor, e conseguimos isso.

Optamos pelo Angus porque o mercado exige carne Angus certificada. Quando se trabalha com uma marca própria, ela precisa ser respaldada por um produto de qualidade. Por isso, decidimos ir um pouco mais para trás na cadeia, não apenas trabalhando com criadores, mas também fornecendo genética de primeira linha para oferecer ao consumidor final um produto de alta qualidade.

Como em todo setor, sempre há ameaças. Obviamente, nem todas as ameaças são maduras, algumas ainda são verdes. Hoje, vemos com certa preocupação no setor pecuário que o número de indústrias frigoríficas no Uruguai é pequeno. Há entre 15 a 18 plantas exportadoras, mas dois grupos estrangeiros, Marfrig e Minerva, controlam mais de 50% da produção. Então, se a operação de venda da Marfrig para a Minerva for aprovada, isso deixará o volume de abate nas mãos de uma única empresa, e isso nos gera grande preocupação para o futuro.

Vocês participam de feiras internacionais e estão em contato constante com importadores de diferentes mercados. Como está o posicionamento da carne bovina uruguaia atualmente?

A carne que predomina, aquela que as pessoas têm em mente, infelizmente não é a carne do Uruguai, principalmente devido ao marketing. Sabemos que a Argentina está bem posicionada, especialmente na Europa, e o Brasil no Sudeste Asiático, devido ao volume. Mesmo assim, o importador sabe que a carne uruguaia oferece a certeza e a segurança necessárias para qualquer negócio.

Ou seja, uma linha de fornecimento contínuo, com a garantia de que, se uma caixa disser lombo, ela estará realmente cheia de lombo. Isso é algo que o importador sabe e valoriza. Esse é um grande diferencial do país, não apenas pelos atores privados da indústria frigorífica, mas também pelas instituições que estão por trás, como o Ministério da Pecuária, o Instituto Nacional de Carnes (INAC) e as ações diplomáticas que têm permitido abrir novos mercados, apesar de altas tarifas, como as de Japão ou Estados Unidos.

O Uruguai possui uma rede de apoio para seus mercados. No ano passado, mais de 50% das exportações de carne foram destinadas à China, mas hoje esse número está abaixo de 40%. Embora tenhamos perdido terreno para a Argentina e o Brasil nos preços para a China, o Uruguai rapidamente encontrou alternativas em destinos como Estados Unidos, Japão, União Europeia e até o mercado kosher em Israel, para colocar esse volume de carne.

Quais são os pontos cruciais para melhorar o acesso ao mercado, pensando na próxima administração do governo?

São vários, mas a abertura dos mercados e a melhoria do acesso continuam sendo questões pendentes. Há locais onde hoje não temos acesso, não porque o país não possa, mas por certo quietismo, por inação de diversos governos que passaram. Além disso, para quem é exportador, um atraso cambial dessa magnitude prejudica o negócio.

Claro que é necessário buscar equilíbrio, pois sabemos que um dólar mais alto também tem seus custos, principalmente em relação à inflação. Por outro lado, é preciso continuar trabalhando para promover o Uruguai como um fornecedor de primeira linha, tanto nos mercados internos quanto externos.

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