Sarcomas: o câncer raro que merece atenção
Resumo: Doença é comum em crianças, correspondendo a aproximadamente 15% dos cânceres pediátricos; há mais 70 tipos, o que torna o diagnóstico precoce essencial
Pouco se fala sobre os sarcomas, o que pode conferir a essa doença um ar misterioso. Vamos descomplicar: eles são um grupo raro de cânceres que começam nos tecidos conectivos do corpo — músculos, ossos, gordura, nervos e vasos sanguíneos. E mais de 70ssa falta de atenção ocorre porque eles representam apenas cerca de 1% dos cânceres em adultos. Contudo, são mais comuns em crianças, correspondendo a aproximadamente 15% dos cânceres pediátricos. O que torna os sarcomas tão desafiadores é a enorme variedade de tipos — mais de 70! Isso faz com que o diagnóstico precoce seja essencial, especialmente em centros especializados que possuem expertise nesses casos complexos.
Esses tumores podem surgir em pessoas de qualquer idade e, curiosamente, não estão diretamente associados ao estilo de vida. Ou seja, não é algo que se possa evitar apenas com escolhas saudáveis (embora elas sejam sempre benéficas). Entre os tipos mais conhecidos estão:
- Osteossarcoma, que geralmente acomete adolescentes e jovens, tendo início nos ossos;
- Lipossarcoma, que se desenvolve no tecido adiposo e é mais comum em adultos;
- Rabdomiossarcoma, um tipo de crescimento rápido que surge no tecido muscular, especialmente em crianças.
Algumas condições genéticas ou exposição prévia à radiação podem aumentar o risco de sarcomas, mas — em muitos casos — eles surgem de forma inesperada, pegando os pacientes de surpresa.
Um dos grandes desafios é que os sarcomas podem imitar condições benignas, o que frequentemente leva a diagnósticos errados ou atrasados. Muitos pacientes enfrentam uma verdadeira jornada até obterem o diagnóstico correto, o que pode significar descobrir a doença em estágios mais avançados. Nesse cenário, centros especializados desempenham um papel crucial, pois contam com equipes experientes e tecnologias avançadas para identificar os sarcomas com maior precisão e rapidez.
Tratamento: um quebra-cabeça personalizado
O tratamento dos sarcomas é como montar um quebra-cabeça. A peça central é a cirurgia, essencial na maioria dos casos. Em situações específicas, quimioterapia e radioterapia podem complementar o cuidado. Nos últimos anos, avanços no entendimento molecular dos sarcomas trouxeram à luz terapias-alvo e até imunoterapia — como no caso do sarcoma alveolar de partes moles, já reconhecida nos Estados Unidos. Cada sarcoma é único, exigindo combinações personalizadas, e os centros especializados estão preparados para ajustar cada peça desse tratamento sob medida.
Prevenção: o papel da atenção aos sintomas
Infelizmente, não há uma fórmula mágica para prevenir sarcomas. Como eles não estão diretamente relacionados ao estilo de vida, não é algo que se possa evitar apenas com uma alimentação saudável. O mais importante é estar atento: caroços ou dores persistentes devem ser investigados por um médico o quanto antes. Esse cuidado pode facilitar a detecção precoce e o início imediato do tratamento.
E no Brasil?
No Brasil, os sarcomas merecem atenção especial. A incidência anual é estimada entre 4.912 e 8.090 novos casos, o que equivale a uma taxa de 2,5 a 3,8 novos casos por 100 mil habitantes por ano. A sobrevida média para pacientes com sarcomas metastáticos de tecidos moles e ósseos é de 12,4 e 17,3 meses, respectivamente — sendo que os pacientes com sarcomas ósseos apresentam melhores taxas de sobrevida.
Um dado relevante é a alta prevalência da mutação TP53 p.Arg337His na população brasileira, conhecida como “mutação brasileira do gene TP53”. Essa mutação está associada à Síndrome de Li-Fraumeni, que aumenta significativamente o risco de sarcomas. Cerca de 8% dos pacientes com sarcoma no Brasil apresentam essa mutação.
Esses números evidenciam a importância do aconselhamento genético e do cuidado especializado. Diagnóstico precoce e tratamento em centros especializados fazem toda a diferença nos resultados dos pacientes. Os sarcomas são desafiadores devido à sua raridade e diversidade, mas, com os avanços no diagnóstico e no tratamento, estamos cada vez mais preparados para enfrentar essa batalha.
Dr. Rodrigo Munhoz – CRM 124669
Especialista em sarcomas e tumores de pele do Hospital Sírio-Libanês
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