Por Que Apoio dos EUA a Putin Torna Investir na Europa Um Bom Negócio
Resumo: Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Retirada da proteção militar deve justificar nova onda de gastos e investimentos públicos, além de tornar as relações comerciais mais dinâmicas
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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
O senador francês Claude Malhuret não é do tipo que mobiliza multidões. Formado em Medicina, 75 anos recém-completados e senador desde 2014, ele teve uma carreira política discreta. No entanto, ele ocupou a tribuna do Senado francês no dia 4 de março e seu discurso, impresso em folhas de papel e lido com alguns tropeços, tornou-se viral.
Falando baixo e sem grandes gestos, Malhuret comparou o governo de Donald Trump em Washington à corte do imperador romano Nero. Referiu-se a Elon Musk como um “bobo da corte intoxicado de ketamina”. Chamou Trump de traidor, por estar apoiando o ditador russo Vladimir Putin. E disse algo que não passou desapercebido. Para enfrentar Putin é preciso construir “uma força militar suficiente para impedir uma nova invasão” afirmou. E não evitou a conclusão óbvia: “a Europa só voltara a ser uma potência militar quando voltar a ser uma potência industrial novamente e isso vai custar caro”.
Ameaça de Putin
A ameaça crescente de Vladimir Putin e a retirada súbita do apoio militar americano que apoiava a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) mostraram aos europeus que faz sentido montar uma estrutura de defesa que não dependa do humor de Washington. E todos concordam que para consegui isso é preciso abrir a carteira, o que é música para os ouvidos do mercado financeiro. Nada como uma injeção de recursos públicos na economia para movimentar os mercados. Em uma estimativa preliminar, os gastos em pesquisa tecnológica, infraestrutura e rearmamento poderiam chegar a € 800 bilhões (R$ 5,05 trilhões).
Não por acaso, os gestores de recursos das principais empresas europeias estão revisando os princípios que impedem investimentos em empresas de defesa. Consideradas não-sustentáveis, essas ações têm ficado fora dos fundos de investimentos há décadas. Agora, gestoras como o suíço UBS estão revisando as diretrizes, de modo a aproveitar os prováveis ganhos.
Estabilidade fiscal
Lançada em 1992, a moeda única europeia, o euro, baseou-se em princípios rígidos sobre os limites de endividamento dos governos. Por isso países com economias mais fracas como Grécia, Itália, Irlanda, Espanha e Portugal vivem tendo problemas na União Europeia. Eles sofrem com desequilíbrios crônicos na previdência social e uma demografia adversa (há muitos velhos recebendo para poucos trabalhadores contribuindo) afetam o orçamento. A solução seria algo que arrepia os economistas mais ortodoxos: gastar dinheiro do governo para estimular a economia.
No entanto, a ameaça de Vladimir Putin e a retirada súbita do apoio militar americano mostraram aos europeus que faz sentido montar uma estrutura de defesa que não dependa do humor de Washington. E que para isso é preciso abrir a carteira, o que é música para os ouvidos do mercado financeiro. Nada como uma injeção de recursos públicos na economia para movimentar os mercados.
Gastos alemães
Na primeira semana de março, o Friedrich Merz, o novo primeiro ministro alemão, surpreendeu a todos com uma proposta de mudança fiscal. Derrotada em duas guerras e tendo enfrentado duas hiperinflações, a de 1918 e a de 1946, a Alemanha tem horror à dívida pública. Mesmo assim, o país anunciou uma proposta de emenda na Lei Fundamental para permitir investimentos de bilhões de euros em defesa e infraestrutura nacional. Merz tem a reputação de ser linha dura em termos fiscais, mas ele defendeu a “independência” da Europa em relação aos EUA e prometeu ajuda militar para a Ucrânia, ainda que isso custe caro.
Outros líderes, como o primeiro ministro polonês Donald Tusk, também se mexeram. A Polônia, assim como as três repúblicas bálticas – Estônia, Letônia e Lituânia – dependem totalmente da defesa americana contra a Rússia. A retirada do apoio de Washington é um risco enorme.
Defesa conjunta
Essa perspectiva não passou desapercebida ao analisa inglês Martin Wolf, decano do jornal britânico Financial Times. Em um artigo publicado na terça-feira (11), Wolf discute os desafios e as oportunidades da Europa assumir a liderança global na defesa da democracia.
Ele afirma que, apesar de a Europa ser uma potência econômica, isso não se traduz em poder geopolítico. Para que isso ocorra, é necessário que os países europeus mobilizem seus recursos de maneira coordenada e estratégica, especialmente na defesa e na segurança. Essa era a ideia subjacente à União Europeia. Montar uma defesa coordenada contra as ameaças externas, principalmente da Rússia e do Oriente Médio.
Há dois problemas nisso. Um deles é que a Europa ainda depende significativamente dos Estados Unidos em termos de tecnologia avançada e suporte militar. Essa dependência limita a capacidade de defesa europeia. E é disso que Malhuret estava falando quando disse que rearmar o continente vai custar caro.
O segundo é que muitos europeus gostam da ideia de um governo autoritário vindo de fora. A ascensão de movimentos populistas e de extrema-direita é um obstáculo à coesão, pois esses movimentos não são democráticos. Segundo Wolf, para que a Europa possa assumir o papel dos Estados Unidos na defesa da democracia, os europeus têm de superar divisões internas e estabelecer mecanismos eficazes de cooperação e mobilização de recursos.
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