Ainda Estou Aqui (2024) – Crítica do filme
Resumo: O filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” foi lançado nos cinemas em 7 de novembro de 2024, tendo estreado no dia 1ª de setembro de 2024 no Festival de Veneza. Contabilizado uma duração de 135 minutos, a obra foi dirigida por Walter Salles…
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O filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” foi lançado nos cinemas em 7 de novembro de 2024, tendo estreado no dia 1ª de setembro de 2024 no Festival de Veneza. Contabilizado uma duração de 135 minutos, a obra foi dirigida por Walter Salles e estrelada por Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Mello.
Sinopse de “Ainda Estou Aqui”
O filme “Ainda Estou Aqui” é uma adaptação de uma obra homônima, de cunho autobiográfico, do autor Marcelo Rubens Paiva, onde ele foca na vida de sua mãe, Eunice Paiva. O filme foca na cidade do Rio de Janeiro, em 1971. Rubens Paiva, um engenheiro civil que volta a morar no Brasil com sua
esposa Eunice Paiva e seus cinco filhos, depois de um autoexílio decorrente da cassação de seu mandato. Rubens, sem o conhecimento de sua família, ajuda os exilados. Contudo, posteriormente, foi levado para um suposto depoimento na polícia e teve sua casa invadida e ocupada. Eunice então começa sua saga para saber o que aconteceu com seu marido.
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As feridas ainda abertas da ditadura militar
A ditadura militar, sem sombra alguma de dúvida, foi um dos períodos mais tenso, sombrios e absurdos da história brasileira. De fato, foi uma época recheada de violência, truculência, autoritarismo, injustiças, repressão, corrupção e assim por diante. Acrescido a isso, está o fato de que o país não puniu os algozes responsáveis pelas atrocidades do período e essa impunidade traz consequências até hoje.
Inegavelmente, o grande diferencial de “Ainda Estou Aqui” reside no fato de que seu enfoque está em mostrar um “outro lado” do escopo de vítimas da ditadura: as famílias dos desaparecidos e mortos desse período. Uma parcela expressiva de obras audiovisuais sobre o período direciona seus esforços em mostrar os perseguidos políticos, os militantes, aqueles que foram pegos, torturados, mortos, etc, como foi dito anteriormente.
É indubitável que tais pessoas passaram por um verdadeiro inferno e seu sofrimento é gigantesco. No entanto, além deles, seus amigos, parentes e pessoas próximas no geral também sofreram; sofreram com o sofrimento de suas pessoas queridas, sofreram pela angústia do desaparecimento dos entes próximos, sofreram com a angústia de não saber o que houve com aqueles que amam, sofreram enquanto eram obrigados a seguir a vida apesar de, pois a vida não tem um botão de pause.
Ainda Estou Aqui mostra justamente uma das faces do sofrimento das vítimas da ditadura. Eunice (e também seus filhos) teve de lidar com a dor do desaparecimento do seu marido; teve lidar com o medo e a angústia de ver seu grande amor e companheiro ser levado por algozes e não voltar; teve de suportar milicos invadirem sua casa, ocupada e revistada, enquanto nenhuma informação sobre a volta do seu marido era dada.
Um ponto deveras interessante e importante do filme foi mostrar que esses perseguidos/presos (e muitos torturados e mortos) da ditadura, como é o caso de Rubens Paiva, também tinham uma vida, eram uma pessoa como qualquer outra, com uma vida para além das atividades políticas, pessoas com família, amigos, sentimentos, pessoas que amavam e eram amadas. Evidenciar esse óbvio lado humano, apesar de ser óbvio, é necessário, pois o óbvio também precisa ser dito. O óbvio precisa ser dito também pelo fato de que aqueles que são indiferentes, que equivocadamente se intitulam como neutros e até mesmo aqueles que apoiam em algum nível a ditadura se “esquecem” ou não fazem questão de lembrar disso.
A paranoia delirante, a loucura, a sanha sangrenta e obsessiva da ditadura militar não vitimou “apenas” aqueles que ativamente fizeram algo para combater o regime, mas mesmo aqueles que não tinham qualquer relação com qualquer atividade política. É mostrado na obra que Eunice Paiva sequer fazia ideia das atividades políticas do marido, pois o mesmo procurou esconder dela e assegurou que nenhum conhecido deles que sabia de tais atividades contassem para ela, justamente como medida de segurança.
Mas, apesar disso, mesmo assim a própria Eunice foi levada e passou dias presa. Aliás, uma de suas filhas, menor de idade, que nem remotamente sabia de algo, também foi levada (apesar de ter ficado apenas 1 dia presa).
Eunice seguiu correndo atrás de informações sobre seu marido, por todos os meios. É claro que os militares negaram a prisão do mesmo, algo que infelizmente era praxe. Era prática comum os militares se fazerem de desentendidos e negarem a prisão e o que quer que fizessem.
Uma das lutas de Eunice, assim como de muitas outras família, foi descobrir o que ocorreu com seus entes queridos, saber o paradeiro deles. A dor da morte de uma pessoa amada é de enorme, mas essa negação da oportunidade de concretizar o luto que é gerada pelo desaparecimento de alguém acaba, de certa forma, sendo mais angustiante ainda.
Além da saga de Eunice com a busca pelo seu marido ou informações sobre o mesmo ocorreu em concomitância com a irremediável necessidade de dar prosseguimento a outros aspectos da sua vida, afinal, ela tinha 5 filhos para criar, assuntos para viver, tinha sua vida e a de seus filhos para lidar.
Nesse afã de ter de ir à luta para criar seus filhos, Eunice vende bens e resolve se mudar para São Paulo com os filhos, voltar a estudar. A propósito, isso não é um defeito e nem um demérito, mas algo que acrescentaria ainda mais valor a história: o filme dá um salto do dia que eles foram se mudar do Rio de Janeiro para 25 anos depois; seria interessante mostrar, mesmo que brevemente, como foi para as crianças se darem conta que de fato o pai não ia voltar. Mas, novamente, não é algo imprescindível, apenas um elemento que seria um incremento bacana.
Um dos momentos mais emocionantes foi quando, 25 anos depois, Eunice finalmente consegue um documento emitido pelo Estado: a certidão de óbito do seu marido, a admissão do que de fato ocorreu com ele. Eunice sorri, mas é um sorriso de alívio por essa parte de sua história finalmente ter o fechamento que precisava, por sua angústia de décadas finalmente receber uma solução.
O que dizer do desempenho de Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui? Totalmente impecável! Não há palavras suficientes para descrever todo o talento e brilhantismo que a atriz evidenciou em cada minuto do filme. Fernanda Torres, com uma habilidade inenarrável, transmitiu toda a dor, toda a angustia, sentimentos e emoções necessárias, de modo tão incrível que se tornou palpável e impossível de não sofrer junto e não se angustiar e se indignar também.
Fernanda Montenegro, maravilhosa, com apenas um olhar, sem dizer uma palavra, apenas usando suas expressões faciais, conseguiu transmitir tanto, passar uma mensagem tão grande e poderosa que era impossível não se emocionar.
Ainda Estou Aqui vale todo o hype e vale cada minuto gasto no cinema. Além de nos tocar profundamente, a obra traz uma mensagem importante: é preciso lembrar, para que nunca mais aconteça.
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