América Latina se fecha em combate a vírus, com exceção de Brasil e México

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A maioria dos líderes da América Latina reagiu à chegada do coronavírus na região com rapidez e gravidade: as fronteiras foram fechadas. Voos foram interrompidos. Soldados andam por ruas desertas garantindo a quarentena, e profissionais médicos se preparam para um aumento do número de pacientes mediante a construção de hospitais de campanha.

Mas os presidentes do Brasil e do México, que governam mais da metade da população da América Latina – Jair Bolsonaro, do Brasil, e, em menor grau, o mexicano Andrés Manuel López Obrador –, permanecem minimizando a situação. Eles zombaram de pedidos para encerrar negócios e limitar drasticamente o transporte público, considerando tais medidas muito mais devastadoras para o bem-estar das pessoas do que o vírus.

Em uma região com altas taxas de pobreza, onde centenas de milhões de pessoas vivem em bairros apertados, sem acesso a saneamento adequado ou cuidados de saúde, especialistas dizem que essa abordagem poderia criar um terreno ideal para o vírus, com consequências devastadoras para a saúde pública, a economia e o tecido social.

“Essa é uma receita de implosão social em uma região que já estava em estado de convulsão social. Em uma situação como essa, as coisas podem colapsar muito rápido se houver falta de confiança no governo e as pessoas se sentirem muito vulneráveis”, disse Monica de Bolle, bolsista sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional, que é brasileira.

López Obrador, um esquerdista, continuou a se misturar a multidões e a beijar bebês. Desconsiderando restrições de viagem, suspensão de negócios ou ordens de quarentena, ele recentemente sugeriu que o México seria poupado pela intervenção divina, enquanto segurava dois amuletos que chamou de “meus guarda-costas”.

“Não entre em pânico e, por favor, não pare de sair. Se você tem capacidade econômica, continue levando sua família a restaurantes, porque isso significa fortalecer a família e a economia popular”, declarou ele em um vídeo.

Foi só dias depois que seu governo fechou escolas, proibiu encontros de mais de cem pessoas e disse aos mexicanos que ficassem em casa. Nesse momento, o governo da Cidade do México já havia determinado o fechamento de grande parte da vida pública.

Mas Bolsonaro, líder de extrema-direita que está no cargo há pouco mais de um ano, continua desafiador, desmerecendo o vírus como um “resfriadinho” que não justifica a “histeria”.

Em discurso nacional, Bolsonaro criticou medidas tomadas por governadores e prefeitos, chamando-as de abordagem de “terra arrasada”. Bolsonaro, que tem 65 anos, também disse que, se contraísse o vírus, se recuperaria facilmente por causa de seu “histórico de atleta”.

Enquanto ele falava, brasileiros de todo o espectro político batiam panela nas janelas, algo que se tornou um protesto noturno contra sua atitude arrogante, com alguns gritando: “Fora, Bolsonaro!”

Até o fim de março, o Brasil tinha 2.271 casos confirmados, um aumento de seis vezes em uma semana, e 47 mortes.

A maioria dos líderes da América Latina considerou o novo vírus um problema distante – que provavelmente não causaria estragos na região durante o verão austral –, até que o primeiro caso foi diagnosticado no Brasil, no fim de fevereiro. Desde então, o coronavírus se espalhou rapidamente na região, com Brasil, Equador e Chile tendo mais casos diagnosticados.

À medida que a pandemia vai afetando a economia global e comprometendo as cadeias de suprimentos em todo o mundo, a América Latina é particularmente vulnerável a um colapso econômico.

A região já lutava para absorver uma diáspora de milhões de venezuelanos que fugiram da crise humanitária e política do país.

O crescimento econômico na América Latina e no Caribe no ano passado foi de 0,1 por cento, derrubado pelo baixo preço das commodities e por uma onda de convulsão social que se abateu sobre a Venezuela, o Peru, o Equador, a Bolívia e o Chile.

O impacto na saúde pública também provavelmente será devastador. Uma grande parcela da população da América Latina vive no tipo de enclave urbano denso onde o vírus parece se espalhar com mais facilidade. Estima-se que 490 milhões de pessoas não têm saneamento adequado.

Quando começaram a ser relatados os primeiros casos confirmados de coronavírus nos bairros pobres do Brasil, os moradores que ganham salários baixos e enfrentam violência desenfreada, falta de saneamento e alojamentos apertados se preparavam para circunstâncias inéditas e terríveis.

A empregada doméstica Daniela Santos, de 32 anos, moradora da favela Vila Paciência, na zona oeste do Rio de Janeiro, está fazendo o possível para permanecer na casa de um quarto que divide com suas três filhas e uma neta. Seu medo do vírus é agravado por uma ameaça mais comum: manter as meninas alimentadas.

Os patrões de Santos disseram a ela que parasse de trabalhar até segunda ordem, mas não se ofereceram para continuar pagando seu salário.

“Quando eu ficar sem comida, o que vou fazer? Não tenho trabalho ou poupança. Não tenho nada. Estamos abandonadas”, afirmou ela.

Bolsonaro tem falado com exasperação sobre o coronavírus desde janeiro, chamando-o de “fantasia” e dizendo que está sendo tratado de maneira desproporcional por rivais políticos e pela imprensa para enfraquecer seu governo.

Mesmo depois que vários de seus principais assessores testaram positivo para o vírus depois de uma viagem oficial à Flórida, que incluiu um jantar com o presidente Donald Trump em Mar-a-Lago, Bolsonaro continuou a argumentar que o “pânico” público representava uma ameaça maior que o vírus.

Enquanto médicos especialistas no Brasil e no exterior insistiam no distanciamento social, particularmente entre idosos e outras pessoas vulneráveis, o presidente encorajou comícios em massa de seus apoiadores em 15 de março – e até cumprimentou várias dezenas de pessoas do lado de fora de sua casa em Brasília, apertando mãos e fazendo selfies.

Enquanto os presidentes no Peru, El Salvador, Argentina, Chile e Venezuela tomaram medidas radicais para limitar o contágio na semana passada, Bolsonaro entrou em guerra com os governadores do Rio de Janeiro e de São Paulo, os dois maiores estados do país, que estavam tomando medidas unilaterais para tentar limitar a movimentação das pessoas.

“A vida continua. Não há necessidade de histeria”, disse Bolsonaro.

Dias depois, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que é médico, alertou que o sistema público de saúde do país “entraria em colapso” até o fim de abril, no ritmo em que o vírus estava se espalhando.

As ações de Bolsonaro desencadearam um retrocesso político – até mesmo de antigos aliados. Janaína Paschoal, deputada estadual que estava na lista de candidatos a vice-presidente de Bolsonaro, pediu seu afastamento do cargo.

Alguns legisladores apresentaram um pedido de impeachment por causa da conduta do presidente.

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Fonte Guilherme Dearo
Data da Publicação Original: 5 April 2020 | 5:23 pm


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